Johny Srouji, vice-presidente sênior responsável pelas tecnologias de hardware da Apple, informou à diretoria que estuda deixar a companhia, iniciativa que coloca em jogo um dos pilares do sucesso recente da linha Apple Silicon.
O que está em pauta
A eventual saída do executivo foi discutida internamente nos níveis mais altos da empresa. Embora não exista decisão definitiva, a simples possibilidade de perda do líder que orquestrou a transição dos Macs de processadores Intel para chips proprietários elevou a preocupação no conselho e na equipe executiva. Srouji teria compartilhado com colegas que, caso realmente saia, pretende continuar ativo no setor de tecnologia em outra corporação, descartando aposentadoria no curto prazo.
Quem é Johny Srouji
Nascido em Haifa, Israel, Srouji construiu carreira em projetos de semicondutores em empresas de peso antes de ingressar na Apple há quase duas décadas. Internamente, ele chefia o grupo que concebe, desenvolve e testa todos os componentes de silício usados em iPhone, iPad, Apple Watch, Apple TV e Mac. Sob sua liderança, o time criou a arquitetura ARM personalizada que resultou na série de chips A-, M- e S-, culminando no Apple Silicon, conjunto de processadores que passou a equipar os computadores da marca.
Por que o papel dele é crítico
Na última década, a independência em relação a fornecedores externos de processadores tornou-se vantagem competitiva fundamental. A Apple controla cronograma, especificações e otimização energética de cada dispositivo ao produzir o próprio chip. Essa abordagem harmoniza hardware e software, reduz custos de licenciamento e garante ganhos de desempenho perceptíveis. Srouji coordena não apenas o desenvolvimento de CPUs e GPUs, mas também o projeto de um modem 5G interno, identificado nos bastidores pelos códigos C1 e C1X, que visa substituir componentes da Qualcomm em gerações futuras de iPhone.
Movimentos da Apple para mantê-lo
Em resposta às conversas sobre uma possível saída, executivos ofereceram pacote de compensação substancialmente maior. Entre as contrapartidas estuda-se conceder a Srouji atribuições ampliadas, com a criação de um cargo de diretor de tecnologia global (CTO). A proposta incluiria autonomia para alinhar diretamente os times de hardware, software e iniciativas emergentes de inteligência artificial, reforçando o papel dele no planejamento de longo prazo.
Reorganização interna em discussão
Para viabilizar a promoção, cogita-se a unificação de duas frentes atualmente distintas: engenharia de hardware e tecnologias de hardware. Hoje, a primeira responde pelo design mecânico, arquitetura de produto e integração final; a segunda, liderada por Srouji, concentra-se em semicondutores e componentes fundamentais. A junção só faria sentido, segundo conversas internas, se John Ternus, atual chefe de engenharia de hardware, fosse alçado à posição de diretor-executivo no lugar de Tim Cook. Esse cenário não está confirmado, mas revela a magnitude das negociações travadas nos corredores de Cupertino.
Estado atual da decisão
No momento, Srouji permanece no cargo. Entretanto, as tratativas continuam, o que leva analistas a enxergar um sinal de alerta. A permanência de executivos dessa envergadura costuma ser definida por pacotes plurianuais de ações restritas e bonificações associadas ao cumprimento de metas tecnológicas. Qualquer hesitação, portanto, indica algum grau de insegurança sobre o futuro plano estratégico.
Efeito dominó: a dança de cadeiras na cúpula
O episódio insere-se em um período de trocas incomum no topo da organização. Nas últimas semanas, a empresa viu a saída do chefe de inteligência artificial, John Giannandrea, a transferência de Alan Dye, líder de design de interface, para a Meta, além dos anúncios de aposentadoria da diretora jurídica Kate Adams, da vice-presidente Lisa Jackson, dedicada a políticas ambientais, e do ex-diretor de operações Jeff Williams. Juntos, esses nomes representavam décadas de conhecimento acumulado em processos, cultura corporativa e governança.
Perdas além dos chips: o caso Cheng Chen
Outra mudança relevante envolve Cheng Chen, executivo encarregado de telas avançadas, óptica do headset Vision Pro e tecnologias de display. Ele está deixando a Apple para integrar a divisão de hardware de uma empresa que investe fortemente em inteligência artificial generativa. A expertise de Chen em sistemas ópticos é considerada vital para futuras gerações de óculos de realidade misturada — segmento que diversos concorrentes classificam como sucessor natural do smartphone.
Fuga de talentos para rivais focados em IA
Relatórios de mercado indicam que competidores como Meta e organizações dedicadas a IA têm recrutado engenheiros oriundos de áreas sensíveis: áudio de alta fidelidade, módulos do Apple Watch, robótica interna e interfaces de usuário. Esses profissionais buscam desafios em ecossistemas capazes de combinar processamento local, inteligência embarcada e novos paradigmas de interação — visão que encontra terreno fértil em companhias que apostam em smartglasses, assistentes conversacionais e robôs pessoais.

Imagem: Brooks Kraft/Apple
A disputa por especialistas em semicondutores
O setor de chips atravessa escassez de profissionais com experiência em design de alto desempenho e baixa energia. Estruturas de fabricação de 3 nm, empilhamento de memória e integração de aceleradores de IA demandam conhecimento de ponta, rarefeito no mercado global. Assim, executivos que dominam ciclo completo de concepção, testes, tape-out e validação em larga escala tornaram-se alvos de pacotes salariais agressivos. O eventual deslocamento de Srouji para outro fabricante abriria brecha para transferência de know-how sobre integração vertical de hardware e software — diferencial que sustenta margens mais altas para a Apple.
Contraponto: o fluxo de entrada
Apesar das manchetes sobre demissões e transferências, a empresa continua contratando. Nas feiras acadêmicas e em laboratórios de pesquisa, recrutadores buscam especialistas em aprendizado de máquina, design térmico, baterias de estado sólido e arquitetura RISC. Vários profissionais saídos de startups focadas em chips risc-v e de centros europeus de semicondutores foram absorvidos recentemente, compensando parte da rotatividade. Esse movimento sinaliza tentativa de equilibrar perdas ao reforçar frentes consideradas vitais para produtos lançados no médio prazo.
Cenários possíveis a curto e médio prazo
Se Srouji permanecer: a tendência é que ele assuma escopo ampliado, talvez como CTO, com autoridade para guiar tanto a evolução do Apple Silicon quanto as abordagens de IA embarcada. Um arranjo desse tipo consolidaria a visão de chips sob medida em toda a linha de produtos e definiria ritmo agressivo de inovação.
Se Srouji partir: além da necessidade de realocar liderança, a empresa perderá o estrategista que concebeu os planos atuais de integração vertical. A transição poderia atrasar projetos de modem interno e ampliar dependência de fornecedores externos. Do lado competitivo, qualquer companhia que o contratar teria acesso ao arquiteto de uma das plataformas de consumo mais eficientes do mercado, algo com potencial de alterar o equilíbrio de forças em categorias de computação pessoal, móvel e vestível.
Como a transição de Macs para Apple Silicon fortalece o argumento
Durante décadas, os computadores da marca utilizaram processadores x86. A escolha de abandonar esse padrão histórico demandou redesign de placas-mãe, otimização de sistemas operacionais e adaptação de milhares de aplicativos. A migração concluída recentemente trouxe ganhos de desempenho por watt e autonomia que transformaram a proposta de valor do Mac. Esse sucesso tornou-se vitrine do talento de Srouji. Quem detém o histórico de executar um plano dessa magnitude assume relevância singular em qualquer estratégia futura, seja dentro da empresa ou em concorrentes em busca de vantagem semelhante.
Implicações para a corrida por dispositivos pós-iPhone
Analistas do setor convergem na ideia de que o próximo grande salto virá de experiências imersivas ou de IA sempre presente. Smartglasses, headsets de realidade mista e assistentes proativos exigem processadores eficientes, capazes de rodar modelos de linguagem localmente, ao mesmo tempo em que mantêm consumo de energia compatível com uso contínuo. A permanência ou saída de Srouji pode acelerar ou atrasar o cronograma de lançamentos destinados a ocupar esse espaço, definindo o ritmo da indústria nos próximos anos.
Ponto de atenção para investidores e mercado
A governança corporativa se apoia em clareza de sucessão e retenção de conhecimento crítico. Oscilações na equipe de direção geram volatilidade, pois interferem na percepção de capacidade de execução. A companhia, contudo, mantém reservas de caixa robustas e histórico de adaptação. O episódio serve como lembrete de que, em segmentos de alta tecnologia, talentos individuais podem impactar valor de mercado tão intensamente quanto indicadores macroeconômicos.
Conclusão factual do momento
Até que uma decisão final seja comunicada, Johny Srouji continua à frente das tecnologias de hardware da Apple. A empresa negocia para assegurar sua permanência, ao mesmo tempo em que lida com saídas relevantes de outros líderes e com uma competição cada vez mais acirrada por profissionais especializados em IA e semicondutores.

Paulistano apaixonado por tecnologia e videojogos desde criança.
Transformei essa paixão em análises críticas e narrativas envolventes que exploram cada universo virtual.
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