Lead – Fabricantes de smartphones se preparam para um cenário de custos mais altos em 2026. Embora novas câmeras, baterias robustas e recursos intensivos de Inteligência Artificial sejam normalmente citados como motivos para encarecer os aparelhos, analistas do setor identificam outro fator decisivo: a oferta limitada de memória RAM. O redesenho da cadeia de suprimentos, provocado pela intensa procura de módulos DRAM por data centers de IA, tende a elevar substancialmente o preço final dos celulares no curto prazo.
Memória RAM: pilar do desempenho e alvo de forte pressão
A memória RAM, componente volátil responsável por manter dados temporários acessíveis ao processador, determina a fluidez do sistema operacional, a rapidez na troca de aplicativos e a capacidade de multitarefa. Sempre que um app é aberto, seus dados são carregados na RAM para que o processador possa consultá-los sem recorrer ao armazenamento interno, que é mais lento. Por consequência, dispositivos com maior quantidade de memória oferecem navegação mais estável, carregamento ágil de jogos e menor risco de travamentos durante tarefas simultâneas.
Historicamente, a RAM figura entre os itens que mais pesam na planilha de custos de um smartphone. A partir do fim de 2025, essa parcela tende a sofrer um reajuste significativo: projeções indicam alta aproximada de 30% nos valores do componente até dezembro daquele ano. No início de 2026, o avanço acumulado poderá atingir mais 20%, produzindo um salto expressivo antes mesmo de os novos modelos chegarem às lojas.
Data centers de IA redirecionam a produção de DRAM
O pano de fundo da escassez está na corrida pela expansão de plataformas de Inteligência Artificial generativa, tradução automática, análise preditiva e outras aplicações de aprendizado profundo. Esses serviços requerem estruturas com milhares de servidores, cada um equipado com grandes quantidades de DRAM para treinar modelos, armazenar parâmetros complexos e responder a consultas em tempo real.
Diante dessa demanda explosiva, os fabricantes de memória direcionam grande parte de suas linhas de produção aos contratos que abastecem centros de dados. A prioridade comercial se explica por volumes de compra elevados e margens superiores às praticadas no mercado de eletrônicos de consumo. Como resultado, segmentos que dependem da mesma tecnologia, entre eles computadores pessoais, consoles e, sobretudo, smartphones, recebem uma fatia menor da oferta disponível. A lógica básica de mercado prevalece: menos módulos à disposição pressiona preços para cima em toda a cadeia.
O impacto não se restringe aos dispositivos premium. Mesmo aparelhos de entrada, que tradicionalmente empregam quantidades mais modestas de RAM, ficam vulneráveis ao repasse de custos. Para fabricantes que operam com margens apertadas, fabricar grandes lotes de modelos básicos pode se tornar inviável, levando à redução da variedade de opções na prateleira.
Efeito dominó no custo unitário dos smartphones
Institutos de pesquisa de mercado já observam reflexos concretos. Estimativas apontam elevação de 8% a 10% no custo unitário dos celulares durante 2025 em razão do encarecimento da memória. Para 2026, projeta-se um acréscimo adicional entre 5% e 7%, patamar que pode se ampliar se a oferta continuar limitada.
A soma desses percentuais vai além de simples números contábeis: representa a necessidade de reajustar tabelas de preços para sustentar a rentabilidade. Dados de mercado indicam que o valor médio global de um smartphone, calculado em moeda norte-americana, deve passar de US$ 457 em 2025 para US$ 465 em 2026. Ainda que o aumento pareça discreto à primeira vista, ele sinaliza tendência de alta constante que se soma a fatores cambiais e tributários em diferentes países.
Outro desdobramento previsto é a concentração de portfólios. Com componentes mais caros, fabricantes tendem a privilegiar linhas que proporcionam retorno maior por unidade vendida, deslocando esforços de pesquisa, marketing e distribuição para aparelhos intermediários avançados e topo de linha. Modelos mais acessíveis, por sua vez, correm o risco de ser descontinuados ou lançados em quantidades menores, reduzindo a competição na faixa de entrada.
Perspectivas de estabilização a partir do fim de 2026
Analistas que acompanham a indústria de semicondutores indicam um possível ponto de virada no final de 2026. A expectativa baseia-se em dois movimentos complementares. Primeiro, a própria expansão de capacidade fabril: novos projetos de fábricas, acelerados pela alta demanda, devem começar a produzir lotes substantivos de DRAM, aliviando gargalos de fornecimento. Segundo, o arrefecimento gradativo da fase mais intensa de compras para data centers, à medida que parte da infraestrutura de IA atingir maturidade operacional.
Se esse duplo ajuste se confirmar, os preços da memória tenderão a recuar ou, pelo menos, a estabilizar, interrompendo a escalada observada entre 2025 e 2026. Importante frisar que estabilização não implica retorno aos patamares anteriores à crise de oferta; significa, sim, um ritmo de variação menos agressivo, permitindo que fabricantes planejem lançamentos e estoques com maior previsibilidade.

Imagem: Internet
Como o consumidor pode enfrentar o período de alta
Enquanto o mercado não se equilibra, estratégias de compra podem mitigar o impacto no orçamento. Uma abordagem clássica é optar por modelos lançados no ano anterior. Quando uma nova geração chega às vitrines, a linha precedente costuma receber descontos expressivos, mantendo desempenho sólido em fotografia, bateria e conectividade, mas com preço mais competitivo.
Outra tática envolve o aproveitamento de promoções sazonais. Datas como a Black Friday concentram liquidações que reduzem temporariamente a margem de lucro das empresas, criando oportunidade para adquirir aparelhos mais potentes sem repassar integralmente a alta dos componentes. A prática exige monitoramento constante de preços e atenção às políticas de troca e garantia.
Mantendo o telefone atual, o usuário pode adiar a despesa até que o ciclo de escassez se amenize. Capinhas resistentes e películas de vidro temperado preservam a estrutura física do aparelho, evitando gastos com reparo de tela ou substituição precoce. Atualizações pontuais do sistema operacional também prolongam a vida útil, pois corrigem falhas de segurança e otimizam o uso de memória, reduzindo travamentos que frequentemente levam à substituição.
Além disso, cuidados com a bateria contribuem para estender a experiência de uso. Evitar descargas completas frequentes, manter o carregamento entre 20% e 80% quando possível e proteger o dispositivo contra temperaturas extremas ajudam a preservar a capacidade original do componente. Em conjunto, essas práticas retardam a necessidade de investir em um novo smartphone durante o período de maior pressão sobre os preços.
Panorama geral: por que 2026 será um ano desafiador para quem busca um novo celular
Reunindo os pontos-chave, a cadeia de suprimentos de memória RAM atravessa uma fase de desequilíbrio provocada pela corrida dos gigantes de tecnologia para expandir data centers de Inteligência Artificial. A alocação preferencial de DRAM para essas infraestruturas reduz a quantidade disponível para produtos de consumo e eleva os custos de produção de smartphones.
Projeções de aumentos na casa de dois dígitos para a memória entre o fim de 2025 e o início de 2026, somadas ao repasse parcial já observado em 2025, resultam em encarecimento direto dos aparelhos. O efeito será sentido no preço médio global, na redução de ofertas de entrada e na tendência de segmentos intermediários e premium concentrarem a atenção das fabricantes.
A esperança de alívio surge apenas no horizonte do último trimestre de 2026, quando novas fábricas devem entrar em operação e a demanda dos data centers pode atingir patamar mais estável. Até lá, consumidores que planejam trocar de celular precisarão ponderar entre antecipar a compra para evitar altas adicionais, buscar cortes de preço em modelos já disponíveis ou prolongar a vida útil do dispositivo que possuem.
Mesmo com a perspectiva de normalização adiante, o episódio reforça a interdependência das várias cadeias tecnológicas. A necessidade de RAM para treinar modelos de IA não é isolada; ela repercute em toda a indústria, alcançando o bolso de quem, no fim da linha, apenas quer um smartphone eficiente e acessível. O acompanhamento atento das variações de estoque e preço da memória continuará sendo essencial para entender os movimentos do mercado móvel nos próximos anos.

Paulistano apaixonado por tecnologia e videojogos desde criança.
Transformei essa paixão em análises críticas e narrativas envolventes que exploram cada universo virtual.
No blog CELULAR NA MÃO, partilho críticas, guias e curiosidades, celebrando a comunidade gamer e tudo o que torna o mundo dos jogos e tecnologia tão fascinante.

